2008 foi um ano muito bom pra mim. Ganhei muito dinheiro e trepei com uma meia-dúzia de oito ou nove mulheres gostosas. Meu time me deu muitas alegrias. Parei de fumar e beber. Escalei o monte Aconcágua. Atravessei o Canal da Mancha a nado. A Alessandra Negrini me deu mole numa festa. Consegui colocar todas as minhas idéias em ordem. Em 2009, não mentirei.
A gente mente muito mais do que pensa, apesar de pensarmos muito mais do que mentimos. Um gesto de cumprimento pode ser uma mentira. Um olhar, um pensamento pode ser uma mentira. A mentira não é dependente da palavra. É livre, e de vez em quando, liberta. Eu sempre tive essa mania feia de tentar ser verdadeiro e honesto com as pessoas o tempo todo. Sempre achei bonito isso de dizer o que penso, assim no estilo Romário. E estou cansado de me foder por causa disso.
Uma noite, há alguns anos, saí pra jantar com uma ex-namorada que andava meio insegura. O clima tava legal, rolaram uns beijinhos, umas cervejas e tal. Mas eis que, no final da noite, ela resolve testar a minha patética honestidade com aquele tipo de pergunta que não se faz. Com um sorriso no rosto, olhos nos olhos, ela pediu: “Diz a verdade: eu sou a mulher mais bonita e mais gostosa com quem você já ficou?”.
Gelei. Este é o típico momento em que a mentira é necessária, mesmo que não seja mentira. Porque mesmo que ela seja a mulher mais bonita e gostosa que você já conheceu, é necessário dizer que SIM com o maior grau de afetação possível (e aí, meu chapa, você já está mentindo), senão, ela pode ficar magoada.
Mas eu... tinha que ser verdadeiro! Dei um gole na cerveja, enchi o pulmão de fumaça e disse a ela que não, ela não era a mais bonita, mas era a mulher que eu mais amava nesse mundo (sou ou não sou um merda?). E nem era mentira. Na hora, ela até riu e tentou disfarçar o ódio, mas aquilo ficou lá, no fundo da cabeça dela até o dia em que ela me deu um pé na bunda. Agora já sei: da próxima vez, digo o que ela quiser escutar, seja ela um dragão-de-komodo ou uma flor. A verdade é um crime hediondo. A mentira é uma pequena contravenção.
Você diz que é feliz. Feliz nos seus relacionamentos, feliz no trabalho, na vida. Diz que acredita num monte de coisas porque aquilo te faz sentir-se melhor. Pois é. Melhor assim. Chega de condenar a mentira, por maior que ela seja. Vamos todos sair às ruas e mentir com sinceridade para os porteiros, padeiros, trocadores de ônibus. Fodam-se a culpa, a consciência, a ética e a moral. Vão todas pra puta que os pariu! Hoje e sempre é primeiro de abril.
Mark Twain (1835-1910), o escritor norte-americano, já dizia: “Se raças e povos inteiros conspiram para difundir gigantescas mentiras silenciosas no interesse das tiranias e dos impostores, por que nos importarmos com as bagatelas ditas pelos indivíduos? Por que havemos de dar a impressão de que abster-se da mentira é uma virtude? Por que nos enganamos dessa maneira? Por que não sermos honrados e sinceros, mentindo todas as vezes que tivermos oportunidade? Isto é... Por que não havemos de ser lógicos, mentindo constantemente ou então nunca mentindo? Creio que será apenas para recobrarmos forças e tirarmos dos lábios o sabor rançoso.”
Mentira boa foi a que eu contei no dia do alistamento para um oficial do exército brasileiro. Se algum milico ler isso aqui, posso me foder, mas foda-se, vamos lá. Eu sou daltônico e me orgulho disso. Tenho um amigo que, além de ser dois anos mais velho, também é daltônico e se livrou de servir o exército por causa disso. Foi ele quem me deu a dica de pegar um atestado de daltonismo com um oftalmologista. E foi o que eu fiz. Cheguei ao quartel com o atestado debaixo do braço.
Passei nos exames e questionários iniciais e estava ficando tenso, pois ao que tudo indicava, eu estava sobrando no grupo que iria servir. Só que, aos 45 do segundo tempo, um oficial virou-se para o meu grupo e perguntou: “Alguém aqui tem alguma deficiência, alguma doença? Se tiver, essa é a hora de falar”. Dei um passo à frente e respondi: “Eu tenho daltonismo”, e puxei o atestado do bolso. “Daltonismo? Que porra é essa, moleque?”, respondeu o oficial, com cara de nojo, enquanto lia o atestado. “Eu não sei diferenciar as cores com precisão”, aleguei, com raro senso didático.
“Não sabe ver cor? Tu tá de sacanagem. E qual é a cor disso aqui?”. O oficial apontou para a camisa de um dos outros caras do meu grupo. A camisa era branca, mas ele apontou para o mapa que ficava no centro da camisa. E aquela era uma das camisas mais comuns da época. Era uma camiseta da marca Company, com um mapa da Ilha Grande. E todo mundo sabia que aquele mapa era obviamente verde, inclusive eu. A maioria dos mapas é verde. Mas fiz um teatro. Fiquei olhando o desenho por alguns segundos, fazendo cara de esforço, até dizer: “Eu não tenho certeza, mas acho que é marrom”. Fui dispensado na mesma hora. Liberado, libertado pela mentira.
Mas como eu ia dizendo, em 2009, não mentirei. Vou torcer pro Vasco voltar à primeira divisão. Vou escalar o Aconcágua, de novo. Vou me matricular numa academia. Vou escrever um texto por dia. E vou parar de mandar o foda-se para os problemas da vida, porque isso é muito feio. De verdade.
A gente mente muito mais do que pensa, apesar de pensarmos muito mais do que mentimos. Um gesto de cumprimento pode ser uma mentira. Um olhar, um pensamento pode ser uma mentira. A mentira não é dependente da palavra. É livre, e de vez em quando, liberta. Eu sempre tive essa mania feia de tentar ser verdadeiro e honesto com as pessoas o tempo todo. Sempre achei bonito isso de dizer o que penso, assim no estilo Romário. E estou cansado de me foder por causa disso.
Uma noite, há alguns anos, saí pra jantar com uma ex-namorada que andava meio insegura. O clima tava legal, rolaram uns beijinhos, umas cervejas e tal. Mas eis que, no final da noite, ela resolve testar a minha patética honestidade com aquele tipo de pergunta que não se faz. Com um sorriso no rosto, olhos nos olhos, ela pediu: “Diz a verdade: eu sou a mulher mais bonita e mais gostosa com quem você já ficou?”.
Gelei. Este é o típico momento em que a mentira é necessária, mesmo que não seja mentira. Porque mesmo que ela seja a mulher mais bonita e gostosa que você já conheceu, é necessário dizer que SIM com o maior grau de afetação possível (e aí, meu chapa, você já está mentindo), senão, ela pode ficar magoada.
Mas eu... tinha que ser verdadeiro! Dei um gole na cerveja, enchi o pulmão de fumaça e disse a ela que não, ela não era a mais bonita, mas era a mulher que eu mais amava nesse mundo (sou ou não sou um merda?). E nem era mentira. Na hora, ela até riu e tentou disfarçar o ódio, mas aquilo ficou lá, no fundo da cabeça dela até o dia em que ela me deu um pé na bunda. Agora já sei: da próxima vez, digo o que ela quiser escutar, seja ela um dragão-de-komodo ou uma flor. A verdade é um crime hediondo. A mentira é uma pequena contravenção.
Você diz que é feliz. Feliz nos seus relacionamentos, feliz no trabalho, na vida. Diz que acredita num monte de coisas porque aquilo te faz sentir-se melhor. Pois é. Melhor assim. Chega de condenar a mentira, por maior que ela seja. Vamos todos sair às ruas e mentir com sinceridade para os porteiros, padeiros, trocadores de ônibus. Fodam-se a culpa, a consciência, a ética e a moral. Vão todas pra puta que os pariu! Hoje e sempre é primeiro de abril.
Mark Twain (1835-1910), o escritor norte-americano, já dizia: “Se raças e povos inteiros conspiram para difundir gigantescas mentiras silenciosas no interesse das tiranias e dos impostores, por que nos importarmos com as bagatelas ditas pelos indivíduos? Por que havemos de dar a impressão de que abster-se da mentira é uma virtude? Por que nos enganamos dessa maneira? Por que não sermos honrados e sinceros, mentindo todas as vezes que tivermos oportunidade? Isto é... Por que não havemos de ser lógicos, mentindo constantemente ou então nunca mentindo? Creio que será apenas para recobrarmos forças e tirarmos dos lábios o sabor rançoso.”
Mentira boa foi a que eu contei no dia do alistamento para um oficial do exército brasileiro. Se algum milico ler isso aqui, posso me foder, mas foda-se, vamos lá. Eu sou daltônico e me orgulho disso. Tenho um amigo que, além de ser dois anos mais velho, também é daltônico e se livrou de servir o exército por causa disso. Foi ele quem me deu a dica de pegar um atestado de daltonismo com um oftalmologista. E foi o que eu fiz. Cheguei ao quartel com o atestado debaixo do braço.
Passei nos exames e questionários iniciais e estava ficando tenso, pois ao que tudo indicava, eu estava sobrando no grupo que iria servir. Só que, aos 45 do segundo tempo, um oficial virou-se para o meu grupo e perguntou: “Alguém aqui tem alguma deficiência, alguma doença? Se tiver, essa é a hora de falar”. Dei um passo à frente e respondi: “Eu tenho daltonismo”, e puxei o atestado do bolso. “Daltonismo? Que porra é essa, moleque?”, respondeu o oficial, com cara de nojo, enquanto lia o atestado. “Eu não sei diferenciar as cores com precisão”, aleguei, com raro senso didático.
“Não sabe ver cor? Tu tá de sacanagem. E qual é a cor disso aqui?”. O oficial apontou para a camisa de um dos outros caras do meu grupo. A camisa era branca, mas ele apontou para o mapa que ficava no centro da camisa. E aquela era uma das camisas mais comuns da época. Era uma camiseta da marca Company, com um mapa da Ilha Grande. E todo mundo sabia que aquele mapa era obviamente verde, inclusive eu. A maioria dos mapas é verde. Mas fiz um teatro. Fiquei olhando o desenho por alguns segundos, fazendo cara de esforço, até dizer: “Eu não tenho certeza, mas acho que é marrom”. Fui dispensado na mesma hora. Liberado, libertado pela mentira.
Mas como eu ia dizendo, em 2009, não mentirei. Vou torcer pro Vasco voltar à primeira divisão. Vou escalar o Aconcágua, de novo. Vou me matricular numa academia. Vou escrever um texto por dia. E vou parar de mandar o foda-se para os problemas da vida, porque isso é muito feio. De verdade.
Zé McGill
ps - a imagem acima é um teste para daltônicos. Se você enxerga ali no meio o número 5, bem-vindo ao mundo do daltonismo.
* Aqui o vídeo de uma música que tem alegrado as tardes deste início de ano. Rubinho Jacobina, Dr sabe tudo. E não é mentira!
9 comentários:
eu consigo ver o número 5 na imagem... e também os números 210, 47, 28...
quero meu prêmio!
e cuidado comigo.
tô nesse clube desde o início!
( :
cheers
m.v
Fala M.V., que clube?
O dos daltônicos ou o dos mentirosos? Huahuahua...
Abs
McGill
Eu to no clube dos mentirosos
omita, José. Apenas omita...
esqueci de dizer que adorei o texto. Vc está cada dia melhor. Beijão
mentir pra "sobrar" é tranquilão... comigo o médico foi citando várias doenças, esperando alguém dizer que tem... nessa eu quase disse que tinha aids, mas aí esperei mais um pouco e fiquei com hipertensão mesmo...
fala McFly! Ontem foi bacana a sonzera, apesar de ser praticamente um encontro da confraria dos afrobiteiros do rio de janeiro...paciência, pelo menos ouvimos boa música num volume que pra muita gente beira o insuportável.
aí, descobri que temos algo mais em comum do que o gosto musical...eu tb tenho discromatopsia! rs. Inclusive, tô penando pra renovar a porra da carteira de motorista por causa dessa merda. coisas da vida.
abração cara. nos vemos por aí. ah, e parabéns pelo blog, ótimas reflexões sobre a vida e o universo!
foi mal, mcfly não, mcgill...
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