quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

JÔNATAS PRECISA DE CARINHO


Adeus hexa, adeus Libertadores, adeus Caio Harry Potter Júnior. Olhei o Flamengo contra o Atlético Paranaense pela televisão no último domingo. Um olho brilhou de tristeza pela apatia e covardia do time, mas o outro brilhou diferente, aliviado com a saída iminente de um técnico que me causou um dos sentimentos mais esquisitos que existem: pena.

Quando li que Harry Potter admitiu ainda não ter encontrado a formação ideal da equipe na trigésima sexta rodada do campeonato, deu pena. Quando ele disse que o Frambueza foi o melhor em campo contra o Botafogo, deu pena. Quando declarou, numa entrevista coletiva, que seu sonho era um dia ter o nome gritado pela torcida... misericórdia. Coitado.

A gente sabe que um técnico é fraco quando uma meia-dúzia de três ou quatro jogadores notoriamente bons de bola vão mal. Foi assim com Leonardo Moura, Ibson, Juan e Marcelinho Paraíba, que tiveram raros momentos de brilho durante o campeonato. E foi assim com o único craque do elenco do Flamengo: Jônatas, que passou o ano inteiro fora até do banco de reservas.

Quando o problema é com apenas um jogador que anda em má fase, tudo bem, aí o problema é o jogador, não o técnico. Mas quando vários jogadores vão mal ao mesmo tempo, há algo errado no comando. O Harry Potter usa óculos, tem varinha de condão, cabelo lambidinho e até que é bem intencionado, mas não sabe falar grosso e escala mal o time. Vide as insistências com Jaílton como zagueiro (cometendo três pênaltis por jogo) e Marcelinho Paraíba (que só faltou chorar para ser escalado em sua posição de origem, no meio de campo).

Se o técnico do Flamengo em 2008 fosse o Felipão, o Muricy Ramalho ou o Mano Menezes, o Jônatas voltava a jogar bola rapidinho. Se bobear, já estaria de volta à seleção. Aliás, se o técnico do Flamengo fosse um desses caras no campeonato que acabou, seríamos campeões. Tínhamos time pra isso. E não há jogador atuando no Brasil que lance uma bola de longa distância, que tenha categoria e visão de jogo como Jônatas Domingos. Que ele é meio doidão, todo mundo sabe. Mas Romário e Maradona também são. Todo gênio é doidão.

O meu avô, que já foi dirigente do Flamengo, conta que um dia chegou no vestiário e encontrou o Jônatas cabisbaixo, quase chorando. Ele já era titular do time, já estava arrebentando e o bolso dele já estava cheio de dinheiro, mas mesmo assim, tinha os olhos cheios d’água ali no vestiário. Meu avô chegou pra ele e perguntou: “Ô Jônatas, que é que há? Tá triste por quê?”. O camisa 5, soluçando, respondeu algo parecido com: “Eu quero voltar pro Ceará, não aguento mais, quero voltar pra minha família...”. Pergunto: É gênio ou não é?

Poucos anos depois, Jônatas carregou o time na conquista da Copa do Brasil de 2006, com ajuda fundamental do Renato Abreu. Não esqueço a comemoração do gol do Renato contra o Ipatinga, naquela Copa do Brasil. O jogo da volta estava empatado no Maracanã quando o Jônatas saiu driblando no meio de campo e lançou uma bola limpinha pro Renato, que chutou de primeira e marcou o gol da vitória. No close da câmera de TV, deu para ler os lábios do Renato durante a comemoração. Ele procurava à sua volta e perguntava: “Cadê o Jônatas? Cadê o Jônatas?”. Queria agradecer o presente. "Cadê o Jônatas", foi o que eu fiquei perguntando ao Caio Potter o ano inteiro.

E agora é isso. O ano acabou e engolimos a pior classificação possível em um Campeonato Brasileiro, que é a quinta colocação. Só não é pior que o rebaixamento. E ainda temos que aturar aquela grande corporação, aquele business, que é o São Paulo Futebol Clube, tomar o nosso posto de maior campeão do Brasil com aquele joguinho safado deles. Você, que não é flamenguista, dirá: “Isso é papo de recalcado”. E é mesmo, mas é também papo de quem não acha legal ver uma empresa ser campeã de futebol.

Quanto ao rebaixamento do Vasco, senti pena (oh, sentimento profano!). Cheguei a torcer pelo time das mulheres bigodudas porque não queria ver tiração de onda por parte do Eurico Miranda – aquele hipopótamo de suspensórios, o personagem mais escroto da história do nosso futebol. Torci pelo rebaixamento do Fluminense. Este sim, merecia. Afinal, todos sabem que o time da burguesia carioca voltou à primeira divisão numa virada de mesa estapafúrdia.

Nós, flamenguistas, tivemos um ano triste. Triste porque o futebol é feito de expectativas e todas as nossas foram frustradas a partir daquela que foi a maior tragédia rubro-negra da história: a derrota por três a zero para o América do México, na Libertadores. Depois vieram outros desastres, como a derrota para o Atlético Mineiro e o empate com o Goiás que, na verdade, foi mais uma derrota por três a zero.

Se tivemos algum momento de alegria em 2008, este nos foi fornecido por um dos nossos maiores ídolos: Renato Gaúcho. Ele, que fez aquele gol insólito contra o Atlético Mineiro, em 1987, e que, agora, comandou o fracasso do Fluminense na final da Libertadores contra a LDU. Valeu, Renato!!! E, no ano que vem, tudo pode melhorar. O Harry Potter já saiu de fininho, temendo ser alvejado pela pedra filosofal das arquibancadas, e o Jônatas vem aí. O Kaiser do Semi-Árido voltará a brilhar. Ele só precisa de um técnico que lhe dê um pouco de carinho e dois quilos de rapadura pra matar as saudades do Ceará.

Zé McGill

Aqui uma pequena amostra do que o Jônatas sabe fazer. Veja sem som, porque a música é uma merda.
http://www.youtube.com/watch?v=jMhwQhAx-QU

Em compensação, aqui está um clipe amador da melhor música do mundo: Gentleman, de Fela Kuti. Pra ouvir no último volume.
http://www.youtube.com/watch?v=-ykpwr8K3M4

2 comentários:

Anônimo disse...

é isso ae primo !

perfeito tudo que escreveu ..


e po , esse video do jonatas mostra o que perdemos em qualidade nesse ano .. tomara que o cara fique pela gavea em 2009 , e quanto a musica do video .. Q PORRA É ESSA ? srsrrsrrsrs ..

Revista Foda-se disse...

fala Pedro!
pode crer... é de foder aquela música né... acho que é aquela banda Creed, sei lá... uma bosta.