domingo, 20 de abril de 2008

A S T R O N A U T A



Amanhã vôo para Barcelona. Vou cair fora por um tempo e não sei quando poderei atualizar a Revista Foda-se. Talvez o faça com pequenas notas para registrar a viagem, que tem garantidos no roteiro Espanha, Itália e Inglaterra. A passagem de volta está marcada para cinco de junho, mas isto é apenas uma data.

Minha banda acabou, meu casamento idem e não possuo vínculo empregatício. Portanto, não há nada que me prenda ao Brasil. Minto. Tem o Flamengo. Não por esse Campeonato Carioca patético em que os times grandes não jogam fora de casa, mas pela Libertadores. Por mim, o Botafogo pode levar o Carioca. Estou cagando. Até porque, toda vez que o Flamengo ganha o Estadual, calça um salto alto e fica se achando o fodão. Depois, se estrepa no Brasileiro.

Fora o Flamengo, sentirei falta também da Antarctica Original e da Bohemia. Já provei cervejas do mundo inteiro e, até a presente data, não encontrei nada parecido. As cachoeiras do Horto – melhor lugar do Rio de Janeiro – também deixarão saudades. E tem ainda os amigos e o Frank Sinatra. Frank, é um cachorro de dois anos e meio, da raça Golden Retriver. O meu melhor amigo nos últimos meses. Quando fico pra baixo, ele chega com cara de cão abandonado e pousa o queixo pesado no meu peito. Quando tudo vai bem, o Frank balança o rabo freneticamente e destrói tudo que estiver ao seu alcance. Ele está aqui agora, do meu lado, e não quer me deixar escrever. Já babou toda a tela do laptop.

Na bagagem, levo pouca roupa e alguns livros. Entre eles, As vinhas da ira, de John Steinbeck. Ainda estou nos primeiros capítulos, mas já sei que, quando terminar a leitura, vou colocá-lo na lista dos meus dez favoritos, que fica registrada neste link à direita, o do perfil. Levo também O estrangeiro, de Albert Camus, o livro que inspirou a música Killing an Arab, do The Cure. A mochila vai abarrotada de encomendas do meu irmão, que mora em Barcelona há quase dois anos. Tem uma barra gigante de Diamante Negro, um par de sandálias Havaianas brancas, o livro do Tim Maia e um pacote de frutas cristalizadas (!). Os fetiches que a saudade da pátria inspiram em um indivíduo são uma comédia.

Sempre achei uma frescura essa história de mp3 player. Gosto de escutar música com os ouvidos bem abertos, sem headphones. Mas para uma viagem longa, até que o aparelho será útil. Comprei-o por R$40, no camelódromo da Uruguaiana. Cabem umas 250 músicas e o repertório já está fechado. Tem de João Donato a Bezerra da Silva. De Carlos Gardel a Gotan Project. De Elvis a Squirrel Nut Zippers. De Gabriel Muzak a Ultraje a Rigor. De Shuggie Ottis a Skip James. De SereS a Fela Kuti. De Toots & The Maitals a Skatalites. De Sly & Robbie a New York Ska Jazz Ensemble. De WAR a Mulatu Astatke. De Pixies a The Who. De John Frusciante a Johnny Cash. E tem uma porrada de faixas da Amy Winehouse – a melhor coisa que aconteceu na música neste século – incluindo umas cinco versões de Valerie.

Voltando ao roteiro. Chego em Barcelona na segunda-feira e fico até o dia 07 de maio. Não conheço ninguém que já tenha passado por lá e não considere Barcelona uma das cidades mais legais do mundo. Veremos. E veremos também Barcelona vs. Valencia, no estádio Camp Nou, a 04 de maio. Depois parto para Roma, onde ficarei por dois dias, antes de tomar o trem para a Toscana. Mora lá, em Lucca, um primo escritor que só conheço por e-mail. Vou aproveitar para ir a Florença, que fica ali perto. Em seguida, Londres. A expectativa é grande por conhecer o berço do Rock n Roll. Vou visitar outro primo, um paulista que não vejo há anos e que, dizem, está ficando famoso na cena local como DJ de música eletrônica. Serão onze dias em Londres.

Depois, volto para Barcelona e devo ir até a Alemanha, conhecer a namorada do meu irmão e visitar uma amiga trapezista que está num circo, em Berlim. Por último, a azeitona da empada, o lugar que mais me atrai, não sei por quê motivo, em todo este roteiro: o Marrocos. Mas isso tudo, é claro, se eu conseguir passar por todas as fronteiras sem problemas. Dizem que estão apertando o cerco contra os imigrantes, especialmente na Espanha. É triste isso. O mundo não deveria ter fronteiras. O cidadão deveria ser livre para poder passar por qualquer território do planeta sem precisar apresentar documento e... dinheiro. Sim. É preciso comprovar que há dinheiro em caixa para gastar no país visitado. Muito triste.

Estou decorando as minha linhas para o diálogo teatral das fronteiras a ser travado com os agentes de imigração. Estar desempregado é um perigo nesta hora. Por isso, acho que vou dar uma resposta que sempre quis, mas nunca tive coragem. Antes de sair do meu último emprego, resolvi fazer vários exames médicos para aproveitar o plano de saúde. Toda vez que eu chegava no consultório, era submetido a um interrogatório intrigante. A última pergunta era sempre a mesma: “Qual é sua profissão?”. No Gastro, fiquei pensando: “que porra o meu emprego tem a ver com o meu pâncreas?”. Minha vontade era responder o seguinte: “Sou astronauta”. Mas ainda não tive coragem. Fui acometido pela mesma vontade em todos os outros consultórios. Quem sabe mando essa para o agente espanhol.

Se não quiserem me receber em seu precioso país porque estou desempregado, FODAM-SE. Volto pra casa, numa boa. Mas suponho que não terei muitos problemas, uma vez que possuo passaporte norte-americano. Sou formado em jornalismo, mas não me orgulho muito disso. A principal coisa que aprendi na faculdade foi que nunca se deve acreditar no que é dito ou escrito por um jornalista. Aliás, desconfiem do que é escrito aqui na Revista Foda-se. Algumas vezes exagero, omito, minto, engano. Portanto, não gosto de dizer que sou jornalista. Nem numa fronteira. Vou concretizar o meu fetiche. Vou dizer que sou astronauta. Mas posso estar mentindo...

Levo no bolso praticamente todas as minhas últimas economias. O pouco que consegui juntar do meu último emprego. Sorte que as passagens aéreas internas da Europa custam zero Euros. Pois é, acredite: Comprei as passagens para Itália e Inglaterra por zero Euros, e mais uma merreca em taxas (Aqui a dica:
www.ryanair.com). Mas, de qualquer maneira, sei que na volta estarei mais liso que o cabelo da Catherine Boceta Jones. Isto é, se eu voltar. No fundo, levo a esperança de encontrar alguma coisa que me faça ficar por lá por um tempo. Quem sabe não me apaixono por um camelo no Marrocos?

Isto não é um adeus, mas preciso agradecer por todas as mensagens que tenho recebido através da Revista Foda-se, no Orkut e no Gmail. A maioria delas, de incentivo e congratulações. E algumas malcriadas também, que são sempre tão bem vindas quanto qualquer outra. Nesta semana, ultrapassamos o incrível número de mil visitantes únicos! São mais de mil desocupados que leram o que eu escrevo por aqui. Vocês não têm nada melhor pra fazer não? De qualquer modo, obrigado. Ao lado dos discos que gravei com as duas bandas que tive, SereS e Gentle Pains, esta revista é um dos orgulhos que carrego. Descobri com ela que vou tentar ganhar a vida escrevendo. Sei que vou passar sufoco, mas... foda-se.

Zé McGill

* Para ser informado sobre as atualizações da Revista Foda-se, escreva um e-mail para
revistafodase@gmail.com, com o assunto “Foda-se”. Ou entre na comunidade do Orkut: http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=46908949

* Amy Winehouse, Valerie - http://www.youtube.com/watch?v=lqSKVv6YO8g

* John Frusciante, How Deep Is Your Love - http://www.youtube.com/watch?v=-tKQWvNZT0k

3 comentários:

Anônimo disse...

será uma viagem bastante interessante.
Londres lhe cai bem, combina com sua calça jeans!!!
espero que alem do camelo voce encontre também uma européia bonita que esteja a altura de sua inteligência e sagacidade!

boa viagem

Unknown disse...

E aí Zé Antônio, por falar em calça, como o rapaz abaixo citou, levou a de moleton verde? Li em algum artigo, que as mulheres marroquinas tem uma atração por calças do gênero. Aproveite essa viagem e tenha boas inspirações, pois todos aguardamos seu retorno.
Preá o rebento!!!!!!!!!

Anônimo disse...

Meu respeito por ti tem aumentado a cada postagem.
Aí viajandão....divirta-se e até...