quarta-feira, 10 de junho de 2009

AFROBEAT NO GO DIE!


Na última sexta-feira (dia 05 de junho), saiu no Rio Fanzine (Rio Show - O Globo) um texto meu sobre o afrobeat. Muito legal! Mas cortaram um bocado do texto, já que a prioridade era da lenda jamaicana Skatalites, com toda razão. Afinal, quem é Zé McGill comparado aos reis do ska?!

Enfim... segue abaixo o meu texto na íntegra, pra quem quiser dar um confere. Para ler a versão publicada n' O Globo, basta clicar na imagem acima.
E a festa MAKULA do dia 06 foi histórica! Confira algumas das fotos do bailão africano no www.myspace.com/festamakula

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Escutei Fela Kuti pela primeira vez em 1997, eu acho. Lembro que era final de tarde de verão, em Los Angeles, e um amigo brasileiro que morava comigo me apresentou aquele CD cuja capa trazia estampada a figura de um babuíno meio sinistro. Era o disco Gentleman (1973) e a primeira música que rolou tinha o mesmo nome. Naquela época, eu escutava muito Pixies e Jane’s Addiction e não tinha muita paciência com o que não fosse rock. Quando meu amigo disse que o tal Fela Kuti era da Nigéria, quase pedi a ele que deixasse pra botar o disco numa outra hora. Mas aí a música começou. E entrou uma batida de percussão que lembrava samba, umas notas graves no teclado e um saxofone demente. Legal, mas nada que não me fizesse querer colocar de volta o disco dos Pixies. Só que, lá pelo segundo minuto da música, quando entraram juntos o baixo e a bateria, ingressei numa espécie de transe. Senti a parede do apartamento tremer e o cheeseburger que eu havia almoçado revirar dentro do meu estômago. Saca aquelas músicas que te ganham logo na primeira audição? Pois é...

Alguns anos mais tarde, já no Brasil, comecei a pesquisar sobre o afrobeat, gênero criado pelo Fela, que une o groove do soulfunky do James Brown à liberdade criativa do jazz, assim como a elementos propriamente africanos e também ao vigor do rock, ele mesmo. Fui caçar aquele som que eu havia escutado em “Gentleman”. Descobri outros nigerianos como Orlando Julius, Tony Allen, Joni Haastrup e The Funkees. Todos contemporâneos da melhor fase do Fela, nos anos 70. E me dei conta de que havia esbarrado com o afrobeat justamente no ano da morte de seu criador. Fela Kuti morreu naquele ano de 1997, quando eu só escutava rock e comia cheeseburger em Los Angeles. Por algum tempo, lamentei ter chegado tarde demais à África.

Acontece que o tempo passou e surgiu na internet o MySpace. Ali, tomei conhecimento da sobrevivência do afrobeat pelo mundo. Ouvi o som de big bands surgidas já no novo século como Nomo (de Michigan), Afrodizz (Montreal), Fanga (Montpellier) e JariBu (Tóquio!). E fiquei sabendo que existem duas cenas em ebulição no orbe terrestre: Nova Iorque, com bandas como Antibalas, Akoya e Kokolo, e Londres, com Dele Sosimi e Inemo, entre outras. Algumas paqueram o jazz, outras flertam até com o hip hop e muitas são compostas por integrantes não-negros. Mas aquilo que o mestre Fela ensinou, inclusive o discurso politizado, está quase sempre ali, na base de tudo. Ou seja, o afrobeat não apenas sobrevive, mas está se espalhando pelo mundo com grau de alcance parecido com o de uma pandemia incontrolável.

Isso sem falar em Lagos, capital da Nigéria, onde os rebentos do Fela – Femi e Seun Kuti – mantém aceso o fogo do afrobeat em sua terra natal. No Brasil, já tivemos grupos como Afrika Gumbe e Obina Shok, cheios de elementos afro no som. E estão pipocando novas bandas nacionais (vide o MySpace) que colocam o afrobeat entre suas principais influências. Portanto, não se espante caso uma tsunami de afrobeat invada o Rio de Janeiro em breve. E não precisa esquecer o samba, a caipirinha, o rock e nem o cheeseburger. Mas chute a preguiça e o preconceito pra escanteio: ouça o som e tente não dançar. Afinal, carregamos no nosso background cultural mil e uma referências africanas. Ou não?

Zé McGill

* Pra não perder o hábito, segue videozinho cascudo da música "Yegelle Tezeta", de Mulatu Astatke (Etiópia), sobre animação da Disney...




2 comentários:

Revista Foda-se disse...

ah, sim, eu havia mandado também para o Rio Fanzine a seguinte listinha de afrobeats para serem baixados e apreciados pelos leitores... segue abaixo. o soulseek vos aguarda!

10 afrobeats para baixar e escutar:

1 – Gentleman (Fela Kuti)
2 – Crazy Afrobeat (Tony Allen)
3 – Many Things (Seun Kuti)
4 – Eyi Su Ngaanga (The Sweet Talks)
5 – Olufeme (Ocar Sulley & The Uhuro Dance Band)
6 – Daktari Walk (The Daktaris)
7 – Star Wars (Akoya Afrobeat Ensemble)
8 – New Song (NOMO)
9 – Big Man (Antibalas)
10 – Mister Sinister (Kokolo Afrobeat Orchestra)

A.C. disse...

anormal chupa-mos