Comecei a escrever algo que pode vir a ser um livro...
Este seria o primeiro capítulo de SERGIPANO, um jogador de futebol arruaceiro e bom de bola, inspirado em Almir, o Pernambuquinho (o aloprado da foto acima). No segundo capítulo, bola rolando e mais confusão, sexo, música... Talvez seja um pouco grande para um blog, mas foda-se... Quem conseguir chegar até o final, sinta-se confortável para sugerir, criticar, sorrir, calar, assobiar, chutar, bocejar...
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SERGIPANO - CAPÍTULO I
Acordou com o rosto colado na calçada de pedras portuguesas. Sua visão se limitava ao que lhe permitia enxergar o olho esquerdo, pois o direito encontrava-se completamente cerrado, inchado pelas pancadas da briga em que se envolvera naquela madrugada. Mas o pior não eram os ferimentos na face. O que preocupava o Sergipano era a mancha de sangue que endurecia o tecido da calça jeans na altura de sua canela esquerda. Domingo tinha jogo. Final de campeonato.
O Sergipano era a grande estrela daquele time do Flamengo no campeonato carioca de 2026. Sua presença na decisão era fundamental para as pretensões da equipe e da torcida, que vivia fase de lua-de-mel com o time após uma década de frustrações. O treinador, Heleno Vianna, conhecendo a fama de arruaceiro do seu camisa 11, fizera recomendações explícitas de discilplina ao final do treino de sexta-feira: “Vai pra casa, toca uma punheta e dorme! Amanhã a gente se vê na concentração”.
Mas a vida noturna do Rio de Janeiro era uma tentação à qual Sergipano sucumbia com a maior impudência. Aos vinte e cinco anos de idade, experimentava a fama com uma sede quase vingativa de quem desperdiçara os anos de adolescência trabalhando no cultivo de tabaco, em Lagarto, sua cidade natal, no agreste sergipano. Sentia-se imbatível. Tinha dinheiro, uma casa de cinco quartos no Recreio dos Bandeirantes e uma caminhonete importada com tração nas quatro rodas.
Naquela noite de sexta-feira, o telefone celular do Sergipano tocou às 22:45hs, justamente no momento em que ele sorvia a última colherada da sopa de mocotó, seu prato predileto, que a cozinheira deixava pronta para os finais de semana antes de ir embora. A bina do aparelho identificava chamada de Gonzaga, ex-goleiro reserva do Botafogo e melhor amigo do Sergipano desde que este chegara ao Rio, havia quatro anos, contratado pelo clube alvinegro.
“Fala Gonzagão!”, saudou Sergipano, de boca cheia.
“Ô, barão, no domingo eu vou lá, hein! Quero ver você acabar com a raça do Henriques, aquele playboy...”, disse Gonzaga. Henriques era o atual goleiro titular do Botafogo. Fora ele quem tomara a vaga de Gonzaga, que estava sem clube havia cinco meses.
“Deixa comigo. Se depender de mim, a carreira do Henriques acaba no domingo”, respondeu Sergipano, cheio de malícia no sotaque nordestino, antes de completar: “Mas diga lá, o que é que tu manda?”
“Então, escuta só: lembra daquela moreninha que a gente conheceu no churrasco do Pereba, a Monica?”
“Aquela bunduda com cara de safada que eu trouxe aqui pra casa depois do churrasco? Lembro bem...”, respondeu Sergipano, largando a colher dentro da cumbuca de sopa.
“Então, encontrei com ela na praia. Me disse que ia passar lá na Baronezza, hoje à noite, com mais duas amigas. Vamos nessa?”
“Porra, Gonzagão, se aqueles putos dos fotógrafos me pegam no flagrante, o Heleno vai me dar o maior esporro, sei não...”.
“Deixa de viadagem, ô, barão! Não vai ter flagrante nenhum. Passo aí e te pego em meia hora, fechado?”, intimou o goleiro.
“Ô diabo... Vamos nessa. Vamos que aquela morena é gostosa e o mocotó já tá no sangue!”, exclamou, desligando o telefone.
Sergipano e Gonzaga chegaram à boate Baronezza já perto da meia-noite. O ambiente era escuro e enfumaçado, mas havia um canto na boate, perto do balcão do bar, que era mais iluminado. Foi para lá que os dois se dirigiram assim que chegaram. Gonzaga vestia uma jaqueta de couro marrom que não deixava espaço para o ar entre os braços musculosos de goleiro e a pele morta do boi. Tinha quase dois metros de altura, cabelos castanho-claros e um nariz muito esquisito, que, de tão curvado, quase tocava a pele entre o próprio e a boca. Sergipano tinha o biotipo típico de muitos nordestinos brasileiros: baixa estatura (um metro e sessenta e cinco centímetros de altura), tronco parrudo e olhar arredio, desconfiado. Trajava calça jeans azul clara e uma camisa social cor de abóbora.
O goleiro foi quem encostou os cotovelos no balcão para pedir a primeira rodada de bebidas: whisky duplo com energético para os dois. A música eletrônica que emanava dos alto-falantes contribuía para criar uma atmosfera luxuriosa, onde garotas de programa e turistas europeus movidos a drogas sintéticas roçavam-se uns nos outros sem que houvesse entre eles nenhuma troca de olhares. Sergipano terminava o segundo drinque quando avistou Monica e as duas amigas do outro lado da boate, cercadas por cinco jovens altos e praticamente albinos. Eram todos louros, com exceção do mais gordinho, de cabelo raspado, que falava e gesticulava sem parar.
“Gonzaga, olha lá a Monica.”, apontou Sergipano, dando uma leve cotovelada na costela do amigo.
“Ih, olha lá... e quem são os galegos?”, indagou Gonzaga, lançando um olhar assassino sobre o grupo de louros.
“Devem ser gringos, vamos dar um confere”.
Sergipano largou o copo vazio sobre o balcão e os dois se aproximaram do grupo. Logo descobriram que realmente eram estrangeiros, os jovens. Eles estavam flertando com o grupo de moças e arriscavam cantadas num português patético: “voucê eh queinte!”, dizia um deles para Monica. A moça correspondia com sorrisos de falsa modéstia e jogava o cabelão liso e negro para o lado, faceira. Sergipano percebeu o clima da conversa e decidiu chegar chutando a porta. Abordou a morena pelas costas, com as mãos nos quadris dela, e falou com a boca quase colada em seu ouvido: “Oi Moniquinha, lembra de mim?”. Gonzaga vinha logo atrás, de olho nas outras duas moças; uma ruiva, de cabelo curto e roupas de plástico modernosas, e outra morena, a mais baixinha das três, que tinha os braços cobertos por tatuagens coloridas e a minissaia mais mini da cidade.
“Sergipano! Claro que lembro de você!”, respondeu Monica, corando na face com o susto, para em seguida explicar aos gringos, em inglês: “Pessoal, este é o Sergipano, do Flamengo! Ele é um jogador de futebol muito famoso por aqui!”. Os gringos, que já haviam ficado pasmos com a intromissão descarada do jogador, não pareceram se animar com a informação. Responderam com um monótono “Oh...”. O mais gordinho ainda emendou: “We don’t like football”. E, mesmo sem saber falar inglês, Sergipano notou a hostilidade no tom de voz dos estrangeiros. “Qual é a desses gringos, Monica? Donti laike futebol? Que porra é essa?”, perguntou Sergipano, com os olhos vermelhos de sangue, encarando o gordinho.
Sabedora do histórico de brigas do jogador, Monica adivinhou a confusão iminente e tratou de mudar de assunto, dando as costas para os gringos e abrindo um sorriso nervoso: “Eles são da Noruega, nem sabem o que é futebol... Mas, então, domingo é dia, hein! Tá preparado?” Sergipano não respondeu, bufou. E não desgrudava os olhos do gordinho escandinavo, que retribuía a animosidade com o olhar. Gonzaga, que observava a tudo calado, interviu: “Vem, Monica, traz as tuas amigas e vamos tomar um drinque ali no bar. Bora, barão”.
Sergipano consentiu e já ia seguindo Gonzaga e as meninas na direção do bar, de mãos dadas com Monica. Mas no meio do caminho, um dos noruegueses – o mais alto e mais bêbado – se colocou no caminho do casal, encarando Monica e fingindo ignorar Sergipano. Com um sorriso sonso espalhado pela cara, ele decretou o início da confusão. Disse algo como: “Hey, baby, onde você vai? Vem com a gente.” E pronto. Sergipano estendeu o braço por entre as pernas do grandalhão e esmagou-lhe o saco com a palma da mão direita. “Ficou maluco, gringo?”, trovejou, mostrando os dentes. Em seguida, um copo de vidro explodiu no supercílio direito do jogador. Era o gordinho, que chegara por trás para acudir o amigo que gemia de dor com a língua de fora e corria sério risco de ficar estéril. O drinque gelado de vodca e suco de laranja que estava no copo de vidro se misturou ao sangue que escorria quente da cara do Sergipano. Este cambaleou por alguns segundos e não pôde testemunhar a voadora que Gonzaga aplicou no peito do gordinho.
A correria e gritaria que deram seguimento à confusão remetiam ao clima de desespero que se instala numa comunidade acometida por uma catástrofe natural. Caos total na pista de dança da Baronezza. Somente quando a pista esvaziou é que foi possível visualizar o massacre: o Sergipano estava montado sobre o peito do gordinho e, babando de ódio, emendava um soco após o outro na cara da vítima, já desacordada. Os cinco seguranças da boate tiveram trabalho para retirar o Sergipano de cima do gordinho. Quando conseguiram, precisaram carregá-lo pelos braços e pernas até a porta da boate. Um dos seguranças ainda levou uma mordida que quase lhe custou um pedaço da orelha.
Lá fora, na porta da boate, Gonzaga recebeu o Sergipano com o casaco de couro rasgado e uma linha fina de sangue escorrendo pelo nariz. Assustada, Monica examinava o olho direito do jogador, que por sorte não perdera a visão após ter um copo de vidro espatifado na cara. Nisso, um dos outros noruegueses surgiu do nada com um pedaço de madeira na mão. Sergipano estava, mais uma vez, de costas quando recebeu o golpe na canela esquerda e outro, logo em seguida, na parte posterior da cabeça. Desta vez, foi ao chão. Apagou por cerca de trinta segundos.
Quando acordou, com o rosto colado na calçada de pedras portuguesas, Sergipano estava rodeado por uma dúzia de fotógrafos. Os flashes disparados pelas câmeras contribuíam para piorar a sensação de tonteira que sofria. Gonzaga, revoltado, gritava: “Cai fora, seu bando de filhos da puta!”. Monica quase sorria, quase fazia pose para as câmeras. Sabia que as fotos estariam nas capas dos jornais do dia seguinte. E não deu outra, a manchete do principal jornal da cidade foi: SERGIPANO ESPANCADO NA VÉSPERA DA DECISÃO!
SERGIPANO - CAPÍTULO I
Acordou com o rosto colado na calçada de pedras portuguesas. Sua visão se limitava ao que lhe permitia enxergar o olho esquerdo, pois o direito encontrava-se completamente cerrado, inchado pelas pancadas da briga em que se envolvera naquela madrugada. Mas o pior não eram os ferimentos na face. O que preocupava o Sergipano era a mancha de sangue que endurecia o tecido da calça jeans na altura de sua canela esquerda. Domingo tinha jogo. Final de campeonato.
O Sergipano era a grande estrela daquele time do Flamengo no campeonato carioca de 2026. Sua presença na decisão era fundamental para as pretensões da equipe e da torcida, que vivia fase de lua-de-mel com o time após uma década de frustrações. O treinador, Heleno Vianna, conhecendo a fama de arruaceiro do seu camisa 11, fizera recomendações explícitas de discilplina ao final do treino de sexta-feira: “Vai pra casa, toca uma punheta e dorme! Amanhã a gente se vê na concentração”.
Mas a vida noturna do Rio de Janeiro era uma tentação à qual Sergipano sucumbia com a maior impudência. Aos vinte e cinco anos de idade, experimentava a fama com uma sede quase vingativa de quem desperdiçara os anos de adolescência trabalhando no cultivo de tabaco, em Lagarto, sua cidade natal, no agreste sergipano. Sentia-se imbatível. Tinha dinheiro, uma casa de cinco quartos no Recreio dos Bandeirantes e uma caminhonete importada com tração nas quatro rodas.
Naquela noite de sexta-feira, o telefone celular do Sergipano tocou às 22:45hs, justamente no momento em que ele sorvia a última colherada da sopa de mocotó, seu prato predileto, que a cozinheira deixava pronta para os finais de semana antes de ir embora. A bina do aparelho identificava chamada de Gonzaga, ex-goleiro reserva do Botafogo e melhor amigo do Sergipano desde que este chegara ao Rio, havia quatro anos, contratado pelo clube alvinegro.
“Fala Gonzagão!”, saudou Sergipano, de boca cheia.
“Ô, barão, no domingo eu vou lá, hein! Quero ver você acabar com a raça do Henriques, aquele playboy...”, disse Gonzaga. Henriques era o atual goleiro titular do Botafogo. Fora ele quem tomara a vaga de Gonzaga, que estava sem clube havia cinco meses.
“Deixa comigo. Se depender de mim, a carreira do Henriques acaba no domingo”, respondeu Sergipano, cheio de malícia no sotaque nordestino, antes de completar: “Mas diga lá, o que é que tu manda?”
“Então, escuta só: lembra daquela moreninha que a gente conheceu no churrasco do Pereba, a Monica?”
“Aquela bunduda com cara de safada que eu trouxe aqui pra casa depois do churrasco? Lembro bem...”, respondeu Sergipano, largando a colher dentro da cumbuca de sopa.
“Então, encontrei com ela na praia. Me disse que ia passar lá na Baronezza, hoje à noite, com mais duas amigas. Vamos nessa?”
“Porra, Gonzagão, se aqueles putos dos fotógrafos me pegam no flagrante, o Heleno vai me dar o maior esporro, sei não...”.
“Deixa de viadagem, ô, barão! Não vai ter flagrante nenhum. Passo aí e te pego em meia hora, fechado?”, intimou o goleiro.
“Ô diabo... Vamos nessa. Vamos que aquela morena é gostosa e o mocotó já tá no sangue!”, exclamou, desligando o telefone.
Sergipano e Gonzaga chegaram à boate Baronezza já perto da meia-noite. O ambiente era escuro e enfumaçado, mas havia um canto na boate, perto do balcão do bar, que era mais iluminado. Foi para lá que os dois se dirigiram assim que chegaram. Gonzaga vestia uma jaqueta de couro marrom que não deixava espaço para o ar entre os braços musculosos de goleiro e a pele morta do boi. Tinha quase dois metros de altura, cabelos castanho-claros e um nariz muito esquisito, que, de tão curvado, quase tocava a pele entre o próprio e a boca. Sergipano tinha o biotipo típico de muitos nordestinos brasileiros: baixa estatura (um metro e sessenta e cinco centímetros de altura), tronco parrudo e olhar arredio, desconfiado. Trajava calça jeans azul clara e uma camisa social cor de abóbora.
O goleiro foi quem encostou os cotovelos no balcão para pedir a primeira rodada de bebidas: whisky duplo com energético para os dois. A música eletrônica que emanava dos alto-falantes contribuía para criar uma atmosfera luxuriosa, onde garotas de programa e turistas europeus movidos a drogas sintéticas roçavam-se uns nos outros sem que houvesse entre eles nenhuma troca de olhares. Sergipano terminava o segundo drinque quando avistou Monica e as duas amigas do outro lado da boate, cercadas por cinco jovens altos e praticamente albinos. Eram todos louros, com exceção do mais gordinho, de cabelo raspado, que falava e gesticulava sem parar.
“Gonzaga, olha lá a Monica.”, apontou Sergipano, dando uma leve cotovelada na costela do amigo.
“Ih, olha lá... e quem são os galegos?”, indagou Gonzaga, lançando um olhar assassino sobre o grupo de louros.
“Devem ser gringos, vamos dar um confere”.
Sergipano largou o copo vazio sobre o balcão e os dois se aproximaram do grupo. Logo descobriram que realmente eram estrangeiros, os jovens. Eles estavam flertando com o grupo de moças e arriscavam cantadas num português patético: “voucê eh queinte!”, dizia um deles para Monica. A moça correspondia com sorrisos de falsa modéstia e jogava o cabelão liso e negro para o lado, faceira. Sergipano percebeu o clima da conversa e decidiu chegar chutando a porta. Abordou a morena pelas costas, com as mãos nos quadris dela, e falou com a boca quase colada em seu ouvido: “Oi Moniquinha, lembra de mim?”. Gonzaga vinha logo atrás, de olho nas outras duas moças; uma ruiva, de cabelo curto e roupas de plástico modernosas, e outra morena, a mais baixinha das três, que tinha os braços cobertos por tatuagens coloridas e a minissaia mais mini da cidade.
“Sergipano! Claro que lembro de você!”, respondeu Monica, corando na face com o susto, para em seguida explicar aos gringos, em inglês: “Pessoal, este é o Sergipano, do Flamengo! Ele é um jogador de futebol muito famoso por aqui!”. Os gringos, que já haviam ficado pasmos com a intromissão descarada do jogador, não pareceram se animar com a informação. Responderam com um monótono “Oh...”. O mais gordinho ainda emendou: “We don’t like football”. E, mesmo sem saber falar inglês, Sergipano notou a hostilidade no tom de voz dos estrangeiros. “Qual é a desses gringos, Monica? Donti laike futebol? Que porra é essa?”, perguntou Sergipano, com os olhos vermelhos de sangue, encarando o gordinho.
Sabedora do histórico de brigas do jogador, Monica adivinhou a confusão iminente e tratou de mudar de assunto, dando as costas para os gringos e abrindo um sorriso nervoso: “Eles são da Noruega, nem sabem o que é futebol... Mas, então, domingo é dia, hein! Tá preparado?” Sergipano não respondeu, bufou. E não desgrudava os olhos do gordinho escandinavo, que retribuía a animosidade com o olhar. Gonzaga, que observava a tudo calado, interviu: “Vem, Monica, traz as tuas amigas e vamos tomar um drinque ali no bar. Bora, barão”.
Sergipano consentiu e já ia seguindo Gonzaga e as meninas na direção do bar, de mãos dadas com Monica. Mas no meio do caminho, um dos noruegueses – o mais alto e mais bêbado – se colocou no caminho do casal, encarando Monica e fingindo ignorar Sergipano. Com um sorriso sonso espalhado pela cara, ele decretou o início da confusão. Disse algo como: “Hey, baby, onde você vai? Vem com a gente.” E pronto. Sergipano estendeu o braço por entre as pernas do grandalhão e esmagou-lhe o saco com a palma da mão direita. “Ficou maluco, gringo?”, trovejou, mostrando os dentes. Em seguida, um copo de vidro explodiu no supercílio direito do jogador. Era o gordinho, que chegara por trás para acudir o amigo que gemia de dor com a língua de fora e corria sério risco de ficar estéril. O drinque gelado de vodca e suco de laranja que estava no copo de vidro se misturou ao sangue que escorria quente da cara do Sergipano. Este cambaleou por alguns segundos e não pôde testemunhar a voadora que Gonzaga aplicou no peito do gordinho.
A correria e gritaria que deram seguimento à confusão remetiam ao clima de desespero que se instala numa comunidade acometida por uma catástrofe natural. Caos total na pista de dança da Baronezza. Somente quando a pista esvaziou é que foi possível visualizar o massacre: o Sergipano estava montado sobre o peito do gordinho e, babando de ódio, emendava um soco após o outro na cara da vítima, já desacordada. Os cinco seguranças da boate tiveram trabalho para retirar o Sergipano de cima do gordinho. Quando conseguiram, precisaram carregá-lo pelos braços e pernas até a porta da boate. Um dos seguranças ainda levou uma mordida que quase lhe custou um pedaço da orelha.
Lá fora, na porta da boate, Gonzaga recebeu o Sergipano com o casaco de couro rasgado e uma linha fina de sangue escorrendo pelo nariz. Assustada, Monica examinava o olho direito do jogador, que por sorte não perdera a visão após ter um copo de vidro espatifado na cara. Nisso, um dos outros noruegueses surgiu do nada com um pedaço de madeira na mão. Sergipano estava, mais uma vez, de costas quando recebeu o golpe na canela esquerda e outro, logo em seguida, na parte posterior da cabeça. Desta vez, foi ao chão. Apagou por cerca de trinta segundos.
Quando acordou, com o rosto colado na calçada de pedras portuguesas, Sergipano estava rodeado por uma dúzia de fotógrafos. Os flashes disparados pelas câmeras contribuíam para piorar a sensação de tonteira que sofria. Gonzaga, revoltado, gritava: “Cai fora, seu bando de filhos da puta!”. Monica quase sorria, quase fazia pose para as câmeras. Sabia que as fotos estariam nas capas dos jornais do dia seguinte. E não deu outra, a manchete do principal jornal da cidade foi: SERGIPANO ESPANCADO NA VÉSPERA DA DECISÃO!
Zé McGill
Where is my mind?
5 comentários:
Esta foto é do famoso jogo em que o Almir brigou sozinho com meio time do Bangu, em 1966!
Um brinde!
assinado: o anão misterioso
colé meu primo ...
po tá ficando muito bom,
leva essa história ae até o apito final!
Responde meu email please.
Manda mais. Bjs
Gostei. Aguardando o próximo capítulo...
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