Tudo o que eu tinha a dizer sobre o carnaval já foi dito AQUI. Portanto, seguem abaixo dez vídeos do Youtube que são folia pura...
1 – Mussum tomando leite
O gênio, o genialzis! Um dos grandes ídolos da Revista Foda-se. Já parou pra pensar que o Mussum vivia falando de cachaça num programa que era assistido por milhões de criancinhas?
2 – Trote da Telerj
Escutei o já clássico trote da Telerj pela primeira vez no recreio do Colégio Andrews, de walkman, há quinze anos. Só lembro que me mijei de rir. E me mijo até hoje. Afinal, “grandes merdas ser adevogado, depois, todo adevogado é viado mesmo...”
3 – Como curtir as praias do Paraná
Alborghetti é a melhor tradução para o termo “escroto”. Quando eu e meu irmão éramos adolescentes (eu orelhudo, ele cabeçudo), parávamos o que estivéssesmos fazendo para assistir ao programa Cadeia, apresentado por ele na CNT.
4 – Senhor, nós estamos ao vivo!
O entrevistado se enrola no meio da resposta e pede para a repórter cortar a entrevista. Só que o lance era ao vivo...
5 – Lasier Martins tomando um choque
Eu nem sei quem é Lasier Martins, mas, Lasier, onde quer que você esteja, obrigado por este momento lindo. (Atenção para os gritinhos dele na hora do choque e para a cara da apresentadora do jornal...)
6 – Agnaldo Timóteo canta Poema de um bruto
Isto é Brasil!!! Esse clipe do Timóteo é de uma sinceridade que corta o coração. Ele joga comida para os cisnes, faz carinho nas crianças... e que letra bonita! Vai, Agnaldo: abra o seu coração para o povo brasileiro!
7 – Vovô é foda
Trecho de uma das dublagens do programa Tela Class, de Hermes e Renato (MTV). Minha parte favorita é a da fotografia. Se bem que também é bem legal a parte em que a Demi Moore vira de costas...
8 – Entrevista com Anderson
Este aqui foi afanado do Tico Tico, o blog do programa Ronca Ronca (Oi FM, toda terça-feira, 22h). É uma entrevista do jogador Anderson (Manchester United e Seleção Brasileira) para algum entrevistador inglês. Basta ler as legendas.
9 – Professor Gilmar dá esporro nos alunos
Gil Brother Away, o cara que esconde pigmeus africanos no jardim de casa, em Petrópolis. “Esse bando de badernista! Tudo uns aluno criado a leite com pêra, a Ovomaltino...”
10 – Costinha e as raspadinhas do Rio
Nem vou dizer nada. Quem não apertar o play, mesmo que já tenha visto antes, deu mole.
Zé McGill
sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009
REVISTA FODA-SE RECOMENDA: 10 VÍDEOS PARA O SEU CARNAVAL
quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009
DOSTOIÉVSKI NÃO COMBINA COM VERÃO
No sábado retrasado, acordei terrivelmente cedo, às nove horas. Levantei da cama, cocei a barriga e fui olhar a rua pela janela. Fazia um calor de derreter pirâmides e resolvi ir à praia. Antes de sair de casa, saquei da estante o livro Os irmãos Karamazóvi, do russo Fiódor Dostoiévski (1821-1881). Eu tenho uma dívida com o autor. Há alguns anos, cheguei a ler 80% do romance Crime e castigo, também escrito por ele, mas desisti perto do final. Naquela manhã de sábado, eu planejava acertar as contas com o Fiódor, na praia do Leblon.
E lá fui eu, de bermuda furada, sandália de dedo e remelas nos olhos caminhar pela calçada em direção à praia. Já escrevi por aqui que pelo menos metade da população do Leblon é composta de poodles. E eu odeio poodles. Pode ser que eu não tenha conhecido o poodle certo, aquele poodlezinho humilde, bacana. Tudo bem, mas o fato é que todos os poodles que já cruzaram o meu caminho carregavam um ar de nobreza aristocrática que me irrita. Pelas calçadas do Leblon, eles desfilam com sapatinhos de pelúcia e abanam aquele rabinho patético em formato de pompom. São tão limpinhos, tão fofinhos, tão escandalosos... Às vezes, tenho vontade de chutá-los.
Assim como nunca vi um filhote de pombo, também nunca vi um poodle vira-lata. Será que existem poodles em Realengo ou em Tomás Coelho ou em qualquer outro bairro fora da Zona Sul do Rio? Também nunca vi. Mas o Leblon está infestado deles. São poodles brancos, pretos, cinzas e poodles-humanos. Do magnata no apartamento de três andares com vista para o mar à madame-decadente-plastificada, são milhares de poodles. Posso resumir facilmente, em uma única palavra, o meu sentimento por esta raça: cólera, aversão, furor, desdém, repugnância, asco, náusea etc.
Mas, por que foi mesmo que comecei a falar sobre poodles? Esqueci... Aliás, lembrei: é que naquela manhã de sábado, enquanto eu esperava o sinal fechar para atravessar a última rua antes da praia, um poodle latiu e mostrou a gengiva pra mim. Numa reação instintiva de susto, levantei o livro do Fiódor com a mão direita e quase o atirei na cabeça do quadrúpede perfumado. Tá certo que o livro tem umas seiscentas páginas, é um tijolão, mas foi só uma ameaça, sou contra agressão aos animais. Mesmo assim, a dona do poodle, uma madame com seu visual de Dona Abóbora, ficou indignada. Pegou o cão no colo e saiu resmungando. Ela era mais poodle que o próprio poodle.
Finalmente pisei na areia quente. Aluguei uma cadeira e andei pra perto do mar enquanto os raios do sol reluziam com força sobre a capa vermelha do livro. A praia ainda não estava lotada e me animei com a perspectiva de ler um pouco sem muito barulho por perto. Dei um mergulho no mar e voltei para a cadeira de praia. Comecei a leitura e me lembrei, logo nas primeiras páginas que, para ler Dostoiévski, é necessário fazer uma cola: anotar os nomes e apelidos de todos os personagens numa folha de papel. Sim, porque a grande maioria dos personagens têm nomes tão modestos quanto Rodion Românovitch Raskólnikov e Aliéksiei Fiodórovitch Karamazov. E cada um tem o seu apelido; Ródion e Aliócha, neste caso, respectivamente.
Se o leitor não anota os nomes e apelidos para efeito de consulta, corre o risco de chegar à metade do livro e ficar completamente perdido. Foi o que aconteceu comigo quando li Crime e castigo. Faltavam umas cem páginas para o final quando comecei a me embolar com os nomes. Fiquei revoltado e joguei o livro num canto. Contudo, a capacidade do autor de transmitir a angústia naquela história me impressionou. Tanto que, prometi “dar uma segunda chance” ao Fiódor. Mas ali na praia, com suor escorrendo pela testa e um cheiro de queijo coalho impregnando o ambiente, percebi que seria difícil ler Os irmãos Karamazóvi.
A praia estava ficando cheia, o calor engrossava, o barulho ídem. Cheguei então a uma parte do livro em que a família Karamazóvi se reúne com o stáriets (um mentor eclesiástico dos monges) num mosteiro. Comecei a me sentir mal. Não sei porquê, mas qualquer história que envolva igreja, mosteiro ou religião me causa desconforto. Aliás, lembro que quando estive em Roma, no ano passado, achei o Vaticano uma bela merda. Entrei na Basílica de São Pedro, fiquei olhando aquele teto todo revestido em ouro e comecei a pensar na quantidade de vidas que aquela igreja custou. Saí em menos de dez minutos. Da igreja e do Vaticano. E foi no momento em que o pai dos Karamazóvi começava a armar a maior confusão no mosteiro que notei uma movimentação estranha ao meu redor, ali na praia.
Havia uma meia-dúzia de três ou quatro sujeitos com câmeras fotográficas nas mãos, todos olhando na mesma direção. Eram os paparazzi - esses indiscretos fotógrafos de celebridades. E o alvo era ninguém menos do que Luana Piovani, aquela pseudo-atriz que nem é tão gostosa assim. Luana é uma autêntica representante da raça poodle-leblonense e resolvera pegar um bronze com a sua tchurma a poucos metros de mim e dos Karamazóvi. Sacanagem, minha leitura foi pro espaço. O falatório e a quentura do meio-dia estavam me deixando zonzo. Senti ânsia de vômito e decidi fechar o livro do Fiódor para respirar um pouco de ar com fumaça de queijo coalho queimado e dar um último mergulho antes de ir embora.
Debaixo d’água, abri os olhos e comecei a pensar que, naquelas condições, a leitura mais adequada seria algo de conteúdo mais leve. Talvez Bukowski ou o caderno de esportes de algum jornal. Talvez nem isso. Leitura exige concentração, disciplina, entrega. Se o sujeito não estiver atento, não consegue ler nem o que está escrito na faixa daqueles aviões de propaganda que sobrevoam as praias cariocas nos finais de semana.
Cheguei em casa, tomei um banho gelado, liguei o ventilador no máximo e dormi ao som do Dub rockers delight, de Sly & Robbie, meu disco favorito de dub. Quando acordei, já era noite e eu estava meio febril por causa da aventura praiana ao lado dos poodles e dos Karamazóvi. Mas valeu para entender que praia, sol de quarenta graus e o verão carioca não combinam com Dostoiévski. Dali pra frente, engrenei no livro do Fiódor e já estou quase na metade, lendo sempre à noite, com o ventilador ligado no máximo e com o Frank Sinatra, o cachorro do meu avô (que não é poodle), sempre ao lado.
E lá fui eu, de bermuda furada, sandália de dedo e remelas nos olhos caminhar pela calçada em direção à praia. Já escrevi por aqui que pelo menos metade da população do Leblon é composta de poodles. E eu odeio poodles. Pode ser que eu não tenha conhecido o poodle certo, aquele poodlezinho humilde, bacana. Tudo bem, mas o fato é que todos os poodles que já cruzaram o meu caminho carregavam um ar de nobreza aristocrática que me irrita. Pelas calçadas do Leblon, eles desfilam com sapatinhos de pelúcia e abanam aquele rabinho patético em formato de pompom. São tão limpinhos, tão fofinhos, tão escandalosos... Às vezes, tenho vontade de chutá-los.
Assim como nunca vi um filhote de pombo, também nunca vi um poodle vira-lata. Será que existem poodles em Realengo ou em Tomás Coelho ou em qualquer outro bairro fora da Zona Sul do Rio? Também nunca vi. Mas o Leblon está infestado deles. São poodles brancos, pretos, cinzas e poodles-humanos. Do magnata no apartamento de três andares com vista para o mar à madame-decadente-plastificada, são milhares de poodles. Posso resumir facilmente, em uma única palavra, o meu sentimento por esta raça: cólera, aversão, furor, desdém, repugnância, asco, náusea etc.
Mas, por que foi mesmo que comecei a falar sobre poodles? Esqueci... Aliás, lembrei: é que naquela manhã de sábado, enquanto eu esperava o sinal fechar para atravessar a última rua antes da praia, um poodle latiu e mostrou a gengiva pra mim. Numa reação instintiva de susto, levantei o livro do Fiódor com a mão direita e quase o atirei na cabeça do quadrúpede perfumado. Tá certo que o livro tem umas seiscentas páginas, é um tijolão, mas foi só uma ameaça, sou contra agressão aos animais. Mesmo assim, a dona do poodle, uma madame com seu visual de Dona Abóbora, ficou indignada. Pegou o cão no colo e saiu resmungando. Ela era mais poodle que o próprio poodle.
Finalmente pisei na areia quente. Aluguei uma cadeira e andei pra perto do mar enquanto os raios do sol reluziam com força sobre a capa vermelha do livro. A praia ainda não estava lotada e me animei com a perspectiva de ler um pouco sem muito barulho por perto. Dei um mergulho no mar e voltei para a cadeira de praia. Comecei a leitura e me lembrei, logo nas primeiras páginas que, para ler Dostoiévski, é necessário fazer uma cola: anotar os nomes e apelidos de todos os personagens numa folha de papel. Sim, porque a grande maioria dos personagens têm nomes tão modestos quanto Rodion Românovitch Raskólnikov e Aliéksiei Fiodórovitch Karamazov. E cada um tem o seu apelido; Ródion e Aliócha, neste caso, respectivamente.
Se o leitor não anota os nomes e apelidos para efeito de consulta, corre o risco de chegar à metade do livro e ficar completamente perdido. Foi o que aconteceu comigo quando li Crime e castigo. Faltavam umas cem páginas para o final quando comecei a me embolar com os nomes. Fiquei revoltado e joguei o livro num canto. Contudo, a capacidade do autor de transmitir a angústia naquela história me impressionou. Tanto que, prometi “dar uma segunda chance” ao Fiódor. Mas ali na praia, com suor escorrendo pela testa e um cheiro de queijo coalho impregnando o ambiente, percebi que seria difícil ler Os irmãos Karamazóvi.
A praia estava ficando cheia, o calor engrossava, o barulho ídem. Cheguei então a uma parte do livro em que a família Karamazóvi se reúne com o stáriets (um mentor eclesiástico dos monges) num mosteiro. Comecei a me sentir mal. Não sei porquê, mas qualquer história que envolva igreja, mosteiro ou religião me causa desconforto. Aliás, lembro que quando estive em Roma, no ano passado, achei o Vaticano uma bela merda. Entrei na Basílica de São Pedro, fiquei olhando aquele teto todo revestido em ouro e comecei a pensar na quantidade de vidas que aquela igreja custou. Saí em menos de dez minutos. Da igreja e do Vaticano. E foi no momento em que o pai dos Karamazóvi começava a armar a maior confusão no mosteiro que notei uma movimentação estranha ao meu redor, ali na praia.
Havia uma meia-dúzia de três ou quatro sujeitos com câmeras fotográficas nas mãos, todos olhando na mesma direção. Eram os paparazzi - esses indiscretos fotógrafos de celebridades. E o alvo era ninguém menos do que Luana Piovani, aquela pseudo-atriz que nem é tão gostosa assim. Luana é uma autêntica representante da raça poodle-leblonense e resolvera pegar um bronze com a sua tchurma a poucos metros de mim e dos Karamazóvi. Sacanagem, minha leitura foi pro espaço. O falatório e a quentura do meio-dia estavam me deixando zonzo. Senti ânsia de vômito e decidi fechar o livro do Fiódor para respirar um pouco de ar com fumaça de queijo coalho queimado e dar um último mergulho antes de ir embora.
Debaixo d’água, abri os olhos e comecei a pensar que, naquelas condições, a leitura mais adequada seria algo de conteúdo mais leve. Talvez Bukowski ou o caderno de esportes de algum jornal. Talvez nem isso. Leitura exige concentração, disciplina, entrega. Se o sujeito não estiver atento, não consegue ler nem o que está escrito na faixa daqueles aviões de propaganda que sobrevoam as praias cariocas nos finais de semana.
Cheguei em casa, tomei um banho gelado, liguei o ventilador no máximo e dormi ao som do Dub rockers delight, de Sly & Robbie, meu disco favorito de dub. Quando acordei, já era noite e eu estava meio febril por causa da aventura praiana ao lado dos poodles e dos Karamazóvi. Mas valeu para entender que praia, sol de quarenta graus e o verão carioca não combinam com Dostoiévski. Dali pra frente, engrenei no livro do Fiódor e já estou quase na metade, lendo sempre à noite, com o ventilador ligado no máximo e com o Frank Sinatra, o cachorro do meu avô (que não é poodle), sempre ao lado.
Zé McGill
*Aqui um vídeo caseiro da faixa Night of dub, do disco Dub rockers delight, de Sly & Robbie:
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