terça-feira, 1 de julho de 2008

O SHOW DO ANO

The Skatalites, a melhor banda de ska do mundo, passou pelo Brasil recentemente e não tocou no Rio. Teve gente se lamentando e gente matando o trabalho e a faculdade para ir até São Paulo ou Brasília conferir o show dos jamaicanos. Eu fiquei. Lamentei, reclamei, proferi adjetivos não muito carinhosos aos responsáveis pela turnê dos caras e depois esqueci. Só que aí disseram que o New York Ska Jazz Ensemble, a segunda melhor banda de ska do mundo, tocaria na cidade. Taí então o consolo, pensei. Consolo... porra nenhuma. Foi o show do ano!

A gente percebe logo que um show merece atenção quando os caras que pisam no palco já passaram da casa dos quarenta anos de idade. Se os caras misturam ska com jazz, rock e reggae e são de Nova Iorque... aí então dá pra desconfiar que o bagulho vai ser realmente quente. E foi. O Teatro Odisséia, local que abrigou o bacanal ska-jazzístico, estava lotado. Raramente se vê uma fila daquele tamanho na porta da casa de shows carioca.

“Rocksteady” Freddie Reiter (saxofone, flauta, vocal) é o coroa meio-careca-meio-grisalho que comanda a banda com um jogo de pernas malemolente e sapatos bicolores. Ele é o único remanescente da formação original do NYSJE. E é ele quem anuncia em inglês: “Nós somos o New York Ska Jazz Ensemble. Rio, vocês estão prontos?”. Começava ali um show que, para mim, ainda não acabou. Estão rolando até agora, aqui dentro da caixola craniana, os ecos do saxofone do “Rocksteady” e do trombone do Mark Pakin – o sósia parrudo do Tom Waits.

O setlist passeou pela carreira da banda e privilegiou seus três primeiros – e melhores - álbuns: New York Ska Jazz Ensemble (1995), Low Blow (1997) e Get This (1998). Nos discos, o NYSJE costuma escolher alguns clássicos do jazz e transformá-los, apimentando a coisa com tempero jamaicano. Quem foi ao Teatro Odisséia viu o que eles fazem com standards como Mood Indigo (Bigard/Ellington/Mills), Harlem Nocturne (Earle Hagen) e Haitian Fight Song (Charles Mingus). Esta última, alías, foi um dos momentos delirantes da noite. A música, que no original de Mingus já soa como um tributo à cocaína tamanha a aceleração dos compassos, com o NYSJE ganha ainda mais cor e energia. Bob Marley & The Wailers também foram homenageados, com uma versão mais cadenciada de Love and Affection, faixa dos primórdios do grupo de Kingston.

Mas o New York Ska Jazz Ensemble não vive só de releituras. O repertório autoral da banda é matador e o público carioca foi presenteado com Joelle, Low Blow, Midnite Crazier e Montalvo, entre outras. De quebra, foram apresentadas algumas faixas do disco novo, Step Forward, que ainda nem foi lançado oficialmente. E, claro, como acontece em 90% dos shows gringos no Rio de Janeiro, teve que rolar um jabazinho maroto: solo de Desafinado (Tom Jobim) no saxofone.

No palco, além do “Rocksteady” e do sósia parrudo do Tom Waits, estavam Yao Dinizulu (bateria), Earl Appleton (teclados), Alfred Wayne Batchelor (baixo) e Alberto Tarin (guitarra). Este último, se empolgava cada vez que “Rocksteady” anunciava: “Na guitarra, Alberto Tarin, de Valencia, Espanha”. E, na empolgação, o Alberto mandou uns solos que às vezes destoavam do clima. Chegou até a citar o solo de Oye Como Va, do Santana, no meio de uma música.

“Caralho! Eu esperei dez anos por esse show!”, foram as palavras que soltou B Negão ao pisar visivelmente emocionado no palco do Teatro Odisséia para participar do bizz mandando rap freestyle em cima da inacreditável Buttah. Entre uma e outra frase dos metais, “Rocksteady” dava um tapinha nas costas e fazia sinal com a cabeça pra que o Negão entrasse na roda. Ninguém conseguiu ficar parado. Sabe aquele lance de por alguns minutos voltar a ser criança? Sabe como é passar um show inteiro com um sorriso debilóide colado na cara, com os dentes à mostra? Pois é. Tipo isso.


Cheguei em casa com o tênis todo pisado e a camisa ensopada de suor. Liguei o som e acordei uma vizinha velha com a música do NYSJE. Até agora, em 2008, passaram pelo Rio de Janeiro os shows de Ozzy Osbourne, Rod Stewart e até Bob Dylan. Mas, por enquanto, o show de domingo do New York Ska Jazz Ensemble no Teatro Odisséia leva o meu troféu de show do ano. Foi daqueles que entram pra lista dos melhores shows da vida de alguém.

Zé McGill


* Aqui estão os links para dois vídeos do show do NYSJE no Teatro Odisséia:
http://youtube.com/watch?v=d52E8udnG2o
http://www.youtube.com/watch?v=VGnqcG7eK2k

** Esta resenha foi publicada no Portal Rock Press:
(
http://www.portalrockpress.com.br/modules.php?name=News&file=article&sid=2719)

*** Foto – Michael Meneses

3 comentários:

Anônimo disse...

Irado,

Nem soube do show. Na verdade não sabia nada sobre a banda antes de digitar "ska jazz" no buscador do e-mule, desde então escuto e gosto muito.

Ontem tive uma reunião com o socio do grupo Matriz que me disse do show. Falou que foi incrivel.

Vamos marcar um chopp.

Abrs

Miguel London

Revista Foda-se disse...

Fala London!!
O texto pode até parecer babação de fã, mas nem é...
Foi realmente incrível esse show.

Pra você e pra todo mundo que estiver buscando as melhores faixas do NYSJE pra baixar... aqui as minhas 10 favoritas:
- Montalvo
- Blue Lunar Ska
- Buttah
- Nasty By Nature
- Prime Suspect
- Centrifuge
- Harlem Nocturne
- Haitian Fight Song
- Bob Barker
- Filthy McNasty
Vai nessa que não tem erro.
Abs
McGill

Poeta Punk disse...

Os caras do NYSJE são realmente uma unanimidade, o show deles em Brasília foi emocionante. Mas te digo irmão o show do Skatalites é o auge do som, na minha opinião nada é tão bom quanto eles. Belo texto do show mesmo, boa resenha, não me pareceu pagação de pau de fã não, é sim um texto que passou a emoção sentido no show. escrevi um texto sobre o show do skatalites em brasília se triver interesse : http://poesiaeboemia.blogspot.com/2008/04/o-auge-do-sopro.html
ps: eles vem ai no Brasil turne marcada pra junho!!!!