sábado, 30 de maio de 2009

REVISTA FODA-SE ENTREVISTA MAUVAL













A próxima edição da festa MAKULA (dia 06 de junho, sábado, no Cine Glória) terá participação histórica de Mauricio Valladares, a lenda! Para saber mais sobre a festa, clique nos flyers acima. Para entrar na lista amiga (R$10,00), mande e-mail com nomes completos para festamakula@gmail.com

Pra quem não sabe, Mauval, além de DJ e fotógrafo, é apresentador do roNca roNca (Oi FM - 102.9, toda terça-feira, às 22h), o programa de rádio mais legal do Brasil, uma verdadeira aula semanal de música, informação e bom humor. A Revista Foda-se trocou uma ideia com o mestre. Lá vai:


RF: A música africana tem expoentes diversos como a guitarrada do Franco, o groove do afrobeat do Fela Kuti, o jazz da Etiópia, o Kuduro de Angola e os temperos caribenhos da Orchestra Baobab, entre muitos outros. Você tem favoritos entre eles?

MV: A preferência aparece no momento... pela diversidade de estilos, cada um tem sua hora própria.

RF: Dá pra dizer que você e o Júlio Barroso (da Gang 90) foram os pioneiros do som afro na noite do Rio, certo? E já que toquei no assunto, qual é a dimensão da contribuição do Júlio, também como pesquisador musical, para a difusão desse tipo de som na cidade?

MV: Muita gente sempre ajudou para a circulação da informação africana. Acho que não podemos separar um estilo do outro... quando a música africana circular, os sons escandinavos e da Ilha de Marajó também chegarão aos ouvidos curiosos. Tudo está interligado!

RF: O Rio de Janeiro ainda pode ser considerada a capital cultural do Brasil? O que há de errado com o público carioca, que só sai de casa pra conferir o que é hype, os eventos da moda, e parece ter preguiça e falta de interesse em conhecer o que é de fato novo ou diferente na cultura em geral?

MV: De errado atualmente? Ha ha ha... quase tudo! Vamos pegar a tal da "cidade da música" de exemplo... Mas o principal nesse assunto de afastamento do público é a falta de informação. Não temos mais nenhum veículo de comunicação nos dizendo a diferença da melancia para a mulher melancia, manja?

RF: Como era a festa Funk n’ Reggae que você fazia no Rio na década de 80? Rolava muito som africano? O público respondia no pé?

MV: Ha ha ha... sim, as pessoas iam pra festa dispostas a se divertir com músicas fora do padrão.

RF: O que é um bom programa de rádio, na sua opinião?

MV: Um programa que informe e surpreenda!

RF: Porque é que o roNca roNca está no ar há tanto tempo, com um público tão fiel, e continua sempre atraindo novos ouvintes?

MV: Acho que por alimentar um público resistente.

RF: Existe algo ou alguém que você gostaria de ter fotografado mas ainda não fotografou?

MV: Os dejótas da Makula!!!

RF: Quem é que merece um foda-se bem bonito?

MV: Os responsáveis pelo emburrecimento dos brasileiros!


* Sente a pressão deste vídeo da Kokolo Afrobeat Orchestra, de Nova Iorque, num show na Inglaterra. Se liga na desorientação do público... com a presença do MV, a pista da MAKULA corre o risco de ficar parecida no sábado...


sábado, 16 de maio de 2009

MICK JAGGER DA BAHIA


Domingo, dia da mães, e a senhora minha mãe diz que queria ir ao show do Caetano Veloso. Eu acordei de ressaca, todo errado, não conhecia o disco novo e não me animei muito. Mas, como era dia das mães, topei na hora. Lembrei também que nunca havia assistido a um show do CV e que acho fodaços os discos do início da carreira dele. Cheguei sonolento ao Canecão.

E demorei a reconhecer a música de abertura: “A voz do morto”, registrada no disco de raridades Cinema Olympia, onde ela aparece tocada pelos Mutantes. Eu estava largado na cadeira e fui logo me ajeitando. Em seguida veio “Sem cais”, que também é a segunda faixa de Zii & Zie, o novo álbum. A linha de baixo, numa onda quase dub, me deixou chapado, ao mesmo tempo que me despertou. Guitarrinha criando clima cool, bateria cheia de classe, e a banda Cê, que acompanha Caetano desde o disco anterior, garantia a felicidade da mamãe. Eu já estava bem acordado.

Pedro Sá (guitarra), Ricardo Dias Gomes (baixo) e Marcelo Callado (bateria), além de figurarem entre os músicos mais talentosos e criativos do Brasil do novo século, também são fãs dos discos do início da carreira do Caetano. E só isso já sugeria que o repertório traria surpresas agradáveis. Mas eu não esperava “Maria Bethânia” (do primeiro disco dos anos de exílio, Caetano Veloso, de 1970), “Irene” e “Não identificado” (do incrível disco de capa branca, Caetano Veloso, de 1969). Esta última, com bateria demolidora de Callado. Aí, mamãe já merecia um beijo.

Caetano pode ser chato, você pode até implicar com ele. Mas é gênio. E talvez seja hoje o melhor cantor brasileiro em atividade. E bota atividade nisso. Além de virar os olhinhos para declarar sorrindo que “Eu sou neguinha”, o cara corre pelo palco feito um Mick Jagger da Bahia (em doses menores de energia), e cativa feito um David Bowie do Pelourinho. Ademais, conserva o (bom) hábito de saber surpreender musicalmente. Se bem que, ao final de “Não identificado”, uma madame da mesa ao lado, certamente surpreendida pela ausência dos maiores sucessos do baiano no roteiro do show, se empolgou e pediu “Leãozinho”. Perdidinha, coitada.

“Base de Guantánamo”, também do disco novo, é prova de que a torneira criativa musical de Caê não fechou. É quase um mantra, quase The Police, quase Cuba. Os backing vocals da banda são coisa fina e a letra fala mal dos norte-americanos. Eu sou norte-americano (nasci lá nos EUA), minha mãe também, e os dois gostamos da música. Tem gente que reclama que Caê faz questão de emitir opinião de forma explícita o tempo todo, até nas letras. Por mim, deixa ele falar e cantar o que quiser... Ele acerta muito mais do que erra.

Acertou na escolha de “Incompatibilidade de gênios”, de João Bosco, mais uma de Zii & Zie, que provocou corinho da plateia durante o bis. Acertou no cenário (de Hélio Eichbauer), em que uma asa-delta colocada praticamente sobre a cabeça do baterista parece que vai levantar vôo. E acertou em cheio no recrutamento da banda Cê.

Tudo bem, a letra de “Lapa” é meio esquisita. Precisava mesmo comparar o bairro carioca a um “rapaz gostoso”? Mas valeu muito ter ido. Mamãe ficou feliz. Eu também fiquei. E a ressaca sumiu. Às vezes, os melhores shows, os melhores filmes, os melhores encontros são aqueles em torno dos quais não se cria expectativa em excesso.

Ok, Mick Jagger da Bahia foi forçação, eu sei.

Zé McGill

* Só faltou no novo show de CV alguma música do disco Transa (1972). Se liga nesse vídeo da música "Nine out of ten" (do Transa), com a Banda Cê, no Tim Festival de 2006: